Estou aqui sentado, bêbado, me perguntando onde e como
estarei amanhã. O cortiço não é lugar para um homem que deseja a privacidade de
seus pensamentos. Dizem que sou um poeta honesto e que manejo o pincel com
destreza, e recebo cartas perfumadas de mulheres distantes, mas estou pronto
para os corvos que se voltam contra o sol da minha razão, enquanto escuto
Rachmaninoff no rádio preciso jarreterar amanhã, digo a vocês que somos todos
loucos e desajustados e que os figurões da universidade, que ensinam poesia das
janelas empoeiradas de um campus tranquilo, não sabem nada a respeito destas
paredes, ou das senhorias de South Hollywood, ou dos rotos desgastados no cortiço,
onde as palavras de Rimbaud ou Rilke significam menos do que um centavo, onde
todo o amor da humanidade e a vida valem menos do que rolos de papel que nos
fazem as vezes de lençóis, menos do que os ratos que nos conhecem e com quem
dividimos os becos, nossas pequenas e mudas derrotas.
Charles Bukowski – pedaços de um caderno manchado de vinho
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