30 de mar. de 2010

Uísque escôces

Sentia-me frustrado, tudo me derrotava. [...] Eu começava a ficar deprimido. Minha vida não estava indo para lugar algum. Precisava de alguma coisa, o brilho das luzes, glamour, alguma porra. [...] Me sentia esquisito. Como se nada tivesse importância. [...] o jogo me cansava. Eu perdera a garra. A existência não era apenas absurda, era simplesmente trabalho pesado. Pense em quantas vezes a gente veste as roupas de baixo em toda a vida. Era surpreendente, era repugnante, era estúpido. [...]

Frequentemente, os melhores momentos na vida são quando a gente não está fazendo nada, só meditando, ruminando. Quer dizer, a gente pensa que todo o mundo é sem sentido, ai vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência da falta de sentido já é quase um pouco de sentido. Sabe como é? Um otimista pessimista. [...]

Portanto, lá estava eu deprimido de novo. Voltei para casa, entrei e abri uma garrafa de uísque escocês. Voltava ao meu velho amigo,uísque escocês com água. O uísque escocês é uma bebida de que a gente não gosta imediatamente. Mas depois que se acostuma, ele opera uma mágica. Acho nele um calor especial que o simples uísque não tem. De qualquer modo, eu estava deprimido e me sentia numa cadeira com a garrafa ao lado. Não liguei a televisão, descobri que quando a gente está mal essa filha da puta só faz a gente se sentir pior. Uma cara chata após a outra, parece não ter fim. Uma procissão interminável de idiotas, alguns famosos. Os cômicos não tinham graça e os dramas era de quarta classe. Não havia muita alternativa para mim, exceto o escocês.

Bukowski - Pulp

Um comentário:

Anônimo disse...

Genial