21 de mai. de 2019





"vai passar, babaca, tudo passa,
é tudo uma piada rindo da sua cara.”

Charles Bukowski - Amor é tudo que nós dissemos que não era

DARLENE



As fotos das strippers estavam expostas atrás de um vidro junto à porta de entrada.
Aproximei-me e comprei um ingresso. A garota no guichê parecia melhor do que as fotos.
Naquele momento me restavam 38 centavos. Entrei no teatro escuro equipado com oito fileiras de
poltronas. As três primeiras estavam lotadas.
Tive sorte. O filme já havia terminado, e a primeira stripper já estava no palco. Darlene. A
primeira geralmente era a pior, uma veterana decadente que não conseguiria, no mais das vezes,
nada além de uns números de bailado na segunda linha do coro. Seja como fosse, tínhamos
Darlene para a abertura. Era provável que alguma das dançarinas tivesse sido assassinada, ou
estivesse menstruada, ou tivesse tido uma crise histérica, explicando assim a nova oportunidade
para Darlene de um número solo.
Darlene, no entanto, era boa. Magra, mas peituda. Um corpo que lembrava um salgueiro. Ao
fim daquelas costas esguias, no meio daquele corpo magro, brotava um enorme traseiro. Era
como um milagre – o suficiente para levar um homem à loucura.
Darlene trajava um vestido negro de veludo, longo e muito justo – suas panturrilhas e pernas
pareciam de um branco mortiço contra aquela negrura. Ela dançava e nos olhava com olhos de
maquiagem extremamente carregada. Era sua chance. Ela queria retornar – ter novamente o seu
número no programa. Eu estava com ela. À medida que o zíper descia, mais e mais do seu corpo
ficava à mostra, saltando para fora daquele sofisticado vestido de veludo negro, pernas e carne
branca. Logo ela estava apenas com seu sutiã cor-de-rosa e uma tanga cheia de penduricalhos,
falsos diamantes que balançavam e reluziam aos seus movimentos.
Darlene seguiu dançando e se agarrou à cortina do palco, que estava puída e coberta por
uma grossa camada de pó. Ela se agarrou ao pano, dançando no compasso que o quarteto de
músicos impunha e sob a luz rosada dos holofotes.
Começou a trepar com a cortina. A banda acelerou o ritmo. Darlene realmente se entregou
para a cortina. As luzes rosadas passaram de súbito a púrpuras. A banda veio com tudo. Ela
pareceu chegar ao orgasmo. Sua cabeça se curvou para trás, sua boca se abriu.
Então ela se endireitou e voltou dançando para o centro do palco. De onde eu estava
sentado, podia escutá-la cantar para si mesma por sobre a música. Agarrou seu sutiã cor-de-rosa
e o arrancou, enquanto um cara três filas abaixo acendia um cigarro. Agora restava apenas a
tanga. Empurrou o dedo contra o umbigo e gemeu.
Darlene seguiu dançando no centro do palco. A banda tocava com mais sutileza. Ela
começou a se mexer com doçura. Então o quarteto começou a esquentar a coisa novamente. Os
músicos avançavam para o ato culminante; o baterista atacava o aro da caixa lembrando o fogo
de uma metralhadora; eles pareciam extenuados, desesperados.
Darlene manipulou seus seios nus, mostrando-os para a gente, seus olhos reluziam com a
plenitude do sonho, seus lábios úmidos e entreabertos. De repente, ela se voltou e balançou seu
imenso rabo para nós. As contas tremularam e brilharam em um bailado louco e cintilante. O
canhão de luz acompanhava a dança e os movimentos como uma espécie de sol. O quarteto seguia
botando para quebrar. Darlene girava e girava. Ela lançou as contas para longe. Eu olhei, eles
olharam. Podíamos ver os pêlos de sua buceta através de sua segunda pele. A banda realmente
fazia sua bunda vibrar.
E eu não conseguia ficar de pau duro.

20 de mai. de 2019




De vez em quando só de vez em quando
é que você encontra alguém com uma
presença e eletricidade que combina com a tua
no ato

e nessa hora geralmente é uma estranha

foi há 3 ou 4 anos atráseu andava pela
Sunset Boulevard em direção a Vermont
quando a uma quadra de distância notei uma
mulher vindo em minha direção

havia algo em sua postura e no seu andar
que me atraiu.
conforme nos aproximamos aumentou a intensidade.

de repente eu sabia toda a sua história:
ela viveu a vida toda com homens
que nunca a conheceram de verdade.

quando ela chegou perto quase fiquei tonto.
podia ouvir os seus passos quando ela chegou perto.

olhei em seu rosto.
ela era tão bonita quanto eu pensava que ela seria.

conforme passamos nossos olhos transaram e se amaram e
cantaram um para o outro

e então ela passou por mim.
fui andando sem olhar pra trás.

aí quando olhei pra trás ela tinha sumido.

o que se deve fazer num mundo onde quase tudo
que vale a pena ter ou fazer é impossível?

entrei num café e resolvi que se algum dia a encontrasse
de novo eu falaria
"por favor, escuta, só preciso falar com você..."

nunca mais a vi de novo
nunca mais a verei.

a rigidez de nossa sociedade silencia o coração
de um homem  e quando você silencia o coração
de um homem você deixa ele por fim
apenas com um pênis.

Charles Bukowski, no livro Maldito deus arrancando esses poemas da minha cabeça

7 de mai. de 2019



"À noite, fiquei bebendo e tentando adivinhar como é que eu ainda estava vivo, como é que o esquema funcionava."

Buk

6 de mai. de 2019



"Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. 
O que quer que fosse preciso para estabelecer essa
confiança, não estava presente  na humanidade.

Buk.





"Às vezes você acha bondade no meio do inferno"
Buk.

3 de mai. de 2019






Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda;
não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse.
E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa.
Tentei me matar com gás e não consegui.
Mas tinha outro problema.
Levantar da cama.
Sempre tive ódio disso.
Vivia afirmando: as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo.
Acharam que estava louco.
Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã.
Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão.
Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem.
É, eu sei que isso não é uma atitude simpática.
Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol.
Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.