15 de dez. de 2014

Loucos e desajustados






Estou aqui sentado, bêbado, me perguntando onde e como estarei amanhã. O cortiço não é lugar para um homem que deseja a privacidade de seus pensamentos. Dizem que sou um poeta honesto e que manejo o pincel com destreza, e recebo cartas perfumadas de mulheres distantes, mas estou pronto para os corvos que se voltam contra o sol da minha razão, enquanto escuto Rachmaninoff no rádio preciso jarreterar amanhã, digo a vocês que somos todos loucos e desajustados e que os figurões da universidade, que ensinam poesia das janelas empoeiradas de um campus tranquilo, não sabem nada a respeito destas paredes, ou das senhorias de South Hollywood, ou dos rotos desgastados no cortiço, onde as palavras de Rimbaud ou Rilke significam menos do que um centavo, onde todo o amor da humanidade e a vida valem menos do que rolos de papel que nos fazem as vezes de lençóis, menos do que os ratos que nos conhecem e com quem dividimos os becos, nossas pequenas e mudas derrotas. 

Charles Bukowski – pedaços de um caderno manchado de vinho

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