3 de mai. de 2019






Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda;
não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse.
E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa.
Tentei me matar com gás e não consegui.
Mas tinha outro problema.
Levantar da cama.
Sempre tive ódio disso.
Vivia afirmando: as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo.
Acharam que estava louco.
Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã.
Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão.
Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem.
É, eu sei que isso não é uma atitude simpática.
Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol.
Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.


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