29 de nov. de 2010

2 amigos


Não tenho certeza da idade exata em que nos conhecemos (talvez 9 ou 10) mas Moises era um dos meus primeiros amigos de verdade: judeu e muito quieto e meu segundo amigo de verdade era o Ruivo - ele tinha um braço bom e parte do outro: a parte inferior de seu braço direito era puro esmalte branco com uma luva de couro marrom sobre os dedos artificiais.
Moises sumiu primeiro. Meu pai me informou sobre ele: apontou para uma garagem rua abaixo uma grande estrutura amarela e branca com portas metálicas: "teu amigo Moises foi flagrado lá dentro fazendo algo numa menina de 5 anos. pegaram ele"

A amizade com o Ruivo durou mais. durante todo o verão nadávamos juntos na piscina publica. ele tinha que remover o braço artificial quando saia mergulando com seu um-braço-e-meio, o braço curto terminando logo abaixo do cotovelo. parecia como se tivesse minúsculos mamilos na extremidade ou talvez parecessem minúsculos dedos.

Os outros garotos o provocavam por causa do meio-braço e seus minúsculos dedos mas eu era um mau elemento e disse a eles nos termos mais precisos que a piscina pertencia a todos e que deixassem ele nadar, merda, senão...

isso às vezes nos trouxe problemas depois: uma turma nos seguiria até em casa
a casa dele ou a minha e mais de uma vez ficariam lá fora gritariam para nós
até que saíssemos e os encontrássemos no gramado da frente. eu não era tão bom quanto o Ruivo. ele era muito bom com seu braço branco puro de luva marrom, eram geralmente 4 ou 5 contra 2 mas o Ruivo simplesmente derrubava um após o outro
balançando aquele braço duro como um porrete eu ouvia o som dele contra os crânios
e então haveria garotos caídos no gramado com as mãos nas cabeças e isso só me faria mais maldoso e eu pegaria um ou dois por mim mesmo e logo todos menos o Ruivo e eu teriam sumido da rua. íamos nadar na piscina pública juntos com mais e mais freqüência. parecia sempre haver novos garotos sempre mais novos garotos que não conseguiam se tocar como a coisa funcionava. eles apenas não entendiam que nós só queríamos nadar e ser deixados em paz. voltando ao Moisés eu não tenho certeza mas, infelizmente, de certo modo ele deve ter tido algumas partes amputadas também. nunca o vimos de novo mas sua mãe com certeza sabia como cozinhar eu me lembro de todos aqueles aromas deliciosos de comida pela casa. eu nunca vi a mãe do Ruivo cozinhar nada.

BUK - Livro : o hino da tormenta

Contribuição mais do que querida da amiga MEL MENDES - http://melmendesprofile.blogspot.com/

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